Enamorada, só o quero, só o desejo, neste mar que me leva... Que me afunda. Ávida, de olhos fechados não enxergo mais nada, porém mesmo que tentasse olhar para o horizonte eu não conseguiria ver nada além dele, além do mar!Este mar lúbrico, este suplício!Quase no limite (ou será que não existe limites?) chego a perder o prumo, me acho masoquista,pois eu o idolatro,vivo por ele, aliais eu não vivo, apenas sinto.
Sinto a gélida água feroz enervando-se e puxando-me com mais força a cada instante, porém eu já não sinto: o gelo do mar já adormeceu qualquer outro sentimento e eu já sucumbo aos poucos para pertencer e reconhecer apenas á este mar, agora não há mais volta, pois eu já sucumbo aos muitos para viver unicamente deste, porém eu não vivo: apenas sinto meu corpo sendo envolvido e tomado por suas águas, chego a loucura de pensar que estou sendo absorvida por ele.
As águas já cobrem minha cabeça, e enquanto respiro, sinto-as entrando pelas minhas narinas como se o meu interno fosse delas também. Num tentame goro de arrancar alguma última respiração com aquele nariz inundado sinto-me sufocada, pela primeira vez. Com esta abafação veio unido um desespero e que, por um milagre, balançou-me de tal forma que despertei. Eu disse milagre? Enceto a debater-me arduamente, porém aquele sorvedouro é mais forte, e não adiantaria lutar contra ele, pois já há muito tempo estou vencida.
Ao fundo, ao fundo, ao fundo. Vejo meus cabelos amalgamados ás águas. Meus pulmões enchem-se delas. Em mim já não habita o desespero, estou conformada com meu fim. Meus olhos esforçam-se para estarem abertos. Meu fim já não parece ser tão ruim assim. Ele me dilacera, porém me encanta. Meu corpo é fraco, e eu, enlevada, e eu, morta.
Érica Sierra Melo.
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