domingo, 6 de setembro de 2009

Cidade Perfeita, Parte II ( De Érica Sierra)

Nesta mesma energia lanço-me ao chão, contra a macega que domina o local. De olhos fechados sinto o meu coração bater forte sob meu peito ainda não crescido. Posso também ouvir minha respiração fatigada, minha respiração longa e profunda que me trazia uma sensação totalmente agradável e nada menos do que eu merecia. Eu ainda tenho a sensação do fruto suculento melando minhas mãos com seu sumo, tenho vontade sujar meu corpo por inteiro, pois ele faz sentir-me cabal, sentir-me mulher. Aproveitando do meu ermo eu abocanho, sôfrega, aquele fruto imaginário, sentindo toda sua doçura, todo seu mel, descendo-me, acariciando minhas vísceras e se acomodando no mais profundo do meu estômago esperando apenas ser digerido, sorvido, absorvido pelo meu suco gástrico, que o envolverá em sua totalidade, fazendo-o ser degradado aos poucos. O que mais almejava em minha vida, o essencial da minha vida fora destruído, desmaterializado por mim mesma. Eu acabei com ele, agora ele só existia dentro de mim e eu estava mais que jubilosa, mais que satisfeita, mais que compraz: finalmente estava completa. Porém quando eu abri os olhos e vi-me limpa senti uma melancolia dominando-me, que se intensificou no momento que senti meus beiços secos e em minha boca o gosto amarescente. Olhando minhas mãos totalmente ilesas de qualquer sumo, passei-as pelos meus cabelos, descendo-as lentamente pelo meu rosto delicado, sentindo minha pele macia da imaturidade, abandonando meu rosto desci-as ávidas com rapidez chegando aos meus seios, que para evidenciar que todo aquele paraíso havia sido apenas em minha mente, ainda faziam minhas mãos caírem reto caminho ao chão. Acabada, desolada, sorumbática escutei o ciciar das árvores, que de tão leve fizeram-me olvidar por algum instante de tudo que havia passado momentos atrás, se isto fosse possível, e assim ter coragem de deixar minha cabeça erecta e cometer o erro de levantar meus olhos até enxergarem aquilo que tanto me maltratava ,trazendo novamente uma onda de emoções incontroláveis. Para agravar o meu, e somente meu, suplício, ao lado dele vi uma folha se desgarrar de seu galho e volitar, calmamente, até pousar com uma sutileza ímpar no chão. Corri até ela, como se corresse da morte,e peguei-a fortemente, apertando-a contra mim. Ela era minha esperança de fruto. Hoje folha amanhã um sabor envolvente, aliciante. Meu ócio chega ao fim, sinto-me descansada e surpreendentemente o fastio. Sinto a aura roçando leve em minha face, o sol já é amarelo queimado, o céu já é rosado. É o fim de tarde em minha cidade perfeita. Continuando minha jornada, posso crer que estou mais forte, que estou maior. Afano por algo que ainda não imagino o que seja. O tédio me exasperava até espertar-me, pois ainda tenho muito o quê conhecer, pois sou apenas pentelha boba e irrequieta.

Um comentário:

  1. Querida,
    Seu texto é maravilhoso! Que delícia lê-lo!
    Obrigada pela oportunidade.
    Beijo grande.
    Lara

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