quinta-feira, 20 de agosto de 2009
Cidade Perfeita, Parte I (de Érica Sierra)
Sinto me consumida por olhos que me observam que me cercam que me assustam. Não sei o que passa dentro de mim, é uma explosão de sentimentos sem significado algum, ou será que apenas afirmo não sendo nem dona do conhecimento?Talvez haja um significado, e, talvez este seja o único que eu quero que continue omisso. Omisso de mim mesma, é isto, omisso de mim mesma. Isto seria possível? Sou uma enganadora nata, quero dizer, uma vencedora nata, sendo assim eu que delimito isso. Assim ando pelas ruas de minha cidade, encantadora cidade. Cores, alegria, beleza, música, tentações, prazeres, perdição. Oh!Não pode ser: minha cidade é a perfeição; e eu uma doce e cândida menina, menina cujos olhos parecem duas enormes fossas. Dou-lhe o direito de conceituar esta afirmação da sua maneira. Engano-me, ou melhor, engano-te: far-te-ei sentir tal afirmação junto a mim, venha cá, aconchegue-se, feche os olhos e escute o som terno da minha voz, venha,viaje comigo, eu serei sua guia, sua rainha, seu alimento, seu gozo... A minha caminhada nunca me cansa, apenas me fortalece, sinto minhas curtas pernas querendo se mexer cada vez mais rápido, querendo crescer. Sim, pernas curtas, pois ainda sou uma inocente garotinha tentando descobrir o mundo. Vago por alguns lugares, sem encontrar rumo algum, reparo com minudência, em todos os detalhes, nesta minha cidade perfeita estes lugares são estupendos, maravilha qualquer vista, reparo também nos sons, nos cheiros, nos animais. Adoro animais. Porém eu perco, ou ganho, mais tempo observando as pessoas, estas grandiosas criatura de Deus, que de tão divinas, que de tão grandiosas são capazes de capazes de cometer incríveis maldades, ficando exultantes em deixar o gosto do martírio na boca das outras, boca esta que irá apodrecendo aos poucos, juntos ao amargo gosto do sofrimento que irá absorver toda a carne, a bondade, felicidade do atormentado, que viverá até seu último labutado suspiro a pena de que mesmo querendo o bem, desejar o mal. Confesso que sou andarilho e assim continuarei cumprindo minha jornada, isto é, caminhando. Nesta minha andança acabo por entrar em um lindo parque, com enormes e copadas árvores carregando seus frutos, deliciosos frutos, com a maior satisfação já vista pelos meus profundos e misteriosos olhos. Depois de muito, deparo-me com uma arvorezinha mais baixa, porém nem por isso menos tentadora. Na ponta dos dedos dos pés, esticando ao máximo todos os músculos de meu magro corpo, consigo apenas coçar a casca do mais próximo fruto. Baldada começo a imaginar-me maior, com a altura certa para o fruto, começo a imaginar-me mulher. Pois mulher ainda não sou, e, quero este tesouro neste instante, sem mais delongas!Sou menina com desejo de mulher. Tal desejo é tão intenso que toma a minha consciência, meu coração, meu físico. Eu quero o fruto, necessito do fruto, fruto que já é minha propriedade, fruto, fruto, fruto, fruto... Já sou capaz de sentir o gosto suave e meloso em minha boca, que se enche de água enquanto pareço dançar ao vento, análoga a uma pluma fofa que brinca deslizando no mesmo. Sinto apenas o contentamento de ser tomada pelo seu sabor.
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